1960
Pela primeira vez na história da música brasileira, surge o termo MPB –
Música Popular Brasileira – empregado por Ary Barroso na contra-capa
do disco 'Bossa Nova', de Carlos Lyra. De década a década, o termo MPB
mudaria sua abrangência de estilos e ampliaria seu significado. Da
elite de músicos dos anos 70 – com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico
Buarque, Gal Costa, Maria Bethânia, Milton Nascimento e outros – à
hoje, o termo representa basicamente quase todo o tipo de música
brasileira à exceção do pop-rock.
Popularizam-se
as freqüências do público nos ensaios das escolas de samba, inclusive
como forma das agremiações obterem algum tipo de renda fora da época
dos desfiles com os seus patrocínios, para garantir parte dos custos de
preparação das infra-estruturas durante o resto do ano, através da
cobrança mínima dos ingressos por parte de algumas delas.
1962
Na quarta-feira do dia 21 de novembro, às 20h30, realiza-se no
Carnegie Hall, em Nova York, Estados Unidos, o primeiro e lendário
Festival de Bossa Nova (também introduzido como New Brazilian Jazz) com
apresentação de João Gilberto, Tom Jobim, Edu Lobo, Bola Sete, Sérgio
Ricardo, Sérgio Mendes e outros. É o lançamento internacional oficial e
em grande estilo da bossa nova com muita repercussão nos Estados
Unidos e Brasil.
Tom Jobim
A primeira grande
influência da bossa nova nos Estados Unidos, sucesso que populariza o
gênero no país e credencia os americanos a adotarem o estilo, é o disco
'Jazz Samba', do guitarrista Charlie Byrd e do saxofonista Stan Getz. A
bossa nova é a maior sensação norte-americana no começo dos anos 60,
sendo suplantada apenas pelo surgimento dos Beatles.
1964
No ano do início da ditadura militar brasileira, acontece, no Rio de
Janeiro, o histórico e militante show Opinião, com músicas do
maranhense João do Vale (1934-1996) e direção de Oduvaldo Viana Filho,
Paulo Pontes e Armando Costa. Foi nesse espetáculo, interpretando a
música "Carcará" (João do Vale e José Cândido) que foi lançada a
cantora baiana Maria Bethânia. Também participaram do evento Nara Leão
(1942-1989) e Zé Kéti. O acontecimento foi um marco na história da
música popular brasileira.
Roberto Carlos
A grande era dos
festivais. A extinta TV Excelsior produz o primeiro Festival de Música
popular Brasileira. Nos dois anos seguintes, a TV Record realiza outros
dois. Também os Festivais Universitários de Música Popular Brasileira,
da TV Tupi, do Rio de Janeiro. Da soma deles, surgem nomes como Elis
Regina (com "Arrastão", de Edu Lobo e Vinícius de Moares), Edu Lobo (com
"Ponteio", dele e de Capinam), Caetano Veloso (com "Alegria, Alegria",
dele mesmo), Gilberto Gil (com "Domingo no Parque", dele mesmo), Gal
Costa (com "Divino Maravilhoso", de Caetano), Os Mutantes (com "Dois Mil
e Um", de Rita Lee e Tom Zé), Chico Buarque de Hollanda (com "A Banda"
e "Roda Viva", dele mesmo), Milton Nascimento (com "Cidade Vazia", de
Baden Powell e Lula Freire), Tom Zé (com "São Paulo, Meu Amor", dele
mesmo), Paulinho da Viola (com "Sinal Fechado", dele mesmo), MPB-4 e
outros. Com o crescimento e expansão da televisão no Brasil, grandes
ídolos da nova música popular brasileira se afirmam. Depois de uma
série, a TV Globo seria a última emissora a produzir os últimos
festivais no país – sendo o derradeiro, o VII Festival Internacional da
Canção, em setembro de 1972, com Maria Alcina cantando "Fio Maravilha",
de Jorge Ben.
Com
a repressão e censura instauradas pelo regime militar, configura-se o
espírito para o surgimento das músicas de protesto, posteriormente nos
festivais, sendo Chico Buarque de Hollanda o compositor mais importante
e representativo desse tipo particular de expressão musical, com
"Apesar de Você" (1970), "Construção" (1971), "Deus Lhe Pague" (1971).
Outro a se ressaltar é o compositor e cantor Sérgio Ricardo, que,
inclusive, em 1967, tomou parte no Festival da Canção de Protesto,
realizado na Bulgária, onde suas músicas foram interpretadas por
Geraldo Vandré. Por sua vez, Vandré atingiu o ponto máximo de sua
carreira de cantor e compositor com a então clássica e polêmica canção
"Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", ou "Caminhando" (1968),
defendida no III Festival Internacional da Canção, e que se tornou uma
espécie de hino estudantil na época.
Chico Buarque
Dezembro, sob violentos
protestos, o visionário maestro Diogo Pacheco abre definitivamente as
portas do Teatro Municipal de São Paulo para a MPB com o espetáculo
'Vinícius, Poesia e Canção', com a participação do próprio Vinícius de
Moraes, Edu Lobo, Baden Powell, Carlos Lyra, Ciro Monteiro, Pixinguinha
e Francis Hime.
O
cantor e compositor carioca Jorge Ben (atualmente, Jorge Ben Jor)
atinge grande sucesso nos Estados Unidos. Ele é convidado pelo
Ministério das Relações Exteriores a se apresentar nos Estados Unidos,
durante três meses, em clubes e universidades. Lançadas por Sérgio
Mendes, as músicas "Mas Que Nada" e "Chove Chuva" chegam às paradas de
sucesso americanas. Em seguida, suas músicas "Nena Naná" e "Zazueira"
são gravadas por Jose Feliciano e Herp Albert, respectivamente –
enquanto, no Brasil, sua carreira enfrentava certas dificuldades. Em
1970, no Midem, em Cannes, Jorge Ben Jor seria muito aplaudido por sua
música "Domingas". Em 1972, realizaria temporadas em Portugal, Itália e
Japão, onde gravaria um disco ao vivo. Em 1975, realizaria uma única
apresentação no Teatro Sistina, em Roma, Itália, transmitida ao vivo
pela televisão italiana. Ainda nos anos 80, se tornaria muito popular
no exterior.
Jorge Ben Jor
1967 Tom Jobim grava com
Frank Sinatra o álbum americano 'Francis Albert Sinatra & Antonio
Carlos Jobim', em que Sinatra interpreta alguns dos maiores sucessos da
bossa nova de autoria de Jobim. O disco é um dos grandes marcos na
história da bossa nova e da música popular brasileira. Detalhe: por
ciúmes, Sinatra não permitiu que Tom Jobim tocasse piano por ser então o
instrumento que mais prestígio dava aos músicos norte-americanos – por
isso, Tom tocou violão, seu segundo instrumento.
1968
Após a bossa nova, vários músicos brasileiros incorporam o jazz em
suas músicas. Buscando um formato brasileiro estão o saxofonista Paulo
Moura, a pianista Eliane Elias, a cantora Flora Purim, Airto Moreira,
Leo Gandelman, César Camargo Mariano, Victor Assis Brasil (1945-1981) –
um dos maiores saxofonistas de jazz do país –, Egberto Gismonti, Naná
Vasconcelos, Hermeto Pascoal, André Geraissati, Zimbo Trio e outros. A
dificuldade em se situar a atuação do jazz no Brasil está no fato dele
aparecer diluído no conceito abrangente de música instrumental.
Com
o lançamento do disco 'Tropicália – Panis Et Circenses', com Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes e o maestro
Rogério Duprat, o tropicalismo é oficialmente reconhecido como
manifesto e nova proposta musical, inspirado na tese antropofágica da
Semana de Arte Moderna de 22, possibilitando o desdobramento do
movimento em trabalhos individuais de seus principais protagonistas em
releituras e novas perspectivas para a música brasileira.
Participaram do movimento, Tom Zé, os letristas Torquato Neto e
Capinam, os maestros arranjadores Júlio Medaglia e Damiano Cozzela.
Pela defesa da música brasileira, o tropicalismo incorporou, com muita
polêmica, o uso da guitarra elétrica, de gêneros como o bolero, o
carnaval, as músicas de raiz e elementos do rock. O nome Tropicália foi
extraído por Caetano de uma instalação do artista plástico Hélio
Oiticica. Em São Paulo, institucionaliza-se oficialmente os desfiles
das escolas de samba.
Caetano Veloso
1970 Passado o fenômeno
do rock'n'roll dos anos 60, e graças à bossa nova, jovem guarda e
tropicália, estabelecem-se os grandes nomes de uma chamada MPB mais
moderna com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Gal Costa,
Maria Bethânia, Vinícius de Moraes, Toquinho, Elis Regina, Milton
Nascimento e outros. A maior parte deste segmento permanece em
evidência.
No
começo dos anos 70, surge também uma importante geração intermediária
de novos nomes da MPB que continuariam a fazer trabalhos de renovação
da música popular brasileira durante o começo do século XXI, tais como
Djavan, Fafá de Belém, Fagner, Belchior, Alceu Valença, Zé Ramalho,
Morais Moreira, Baby Consuelo (atual Baby do Brasil), Pepeu Gomes, Elba
Ramalho, e outros.
O
início da década marca o amadurecimento da carreira da cantora gaúcha
Elis Regina (1945-1982) – uma das maiores intérpretes brasileiras de
todas as épocas. Depois de uma bem-sucedida apresentação na América
Latina e Europa, Elis grava e passa a lançar uma série de músicas de
grandes compositores-cantores até então desconhecidos, revelando-os
nacionalmente, como Ivan Lins (com "Madalena", em 1970); João Bosco e
Aldir Blanco (com "O Caçador de Esmeraldas" [1973], "Mestre-salas dos
Mares" e "Dois Pra Lá, Dois Pra Cá" [1974]); Belchior, no show Falso
Brilhante, de 1975, (com "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida"); e
Renato Teixeira (com "Romaria", em 1977).
Elis Regina
No começo da década,
surge no Rio de Janeiro um fenômeno que se caracterizaria como
tipicamente carioca – os bailes funk. Os primeiros bailes aconteciam no
Canecão, na Zona Sul, sempre aos domingos. Os "bailes da pesada", como
eram conhecidos, foram espalhando-se para os clubes do subúrbio.
Ouve-se James Brown ("Sex Machine", "Get On The Good Food", "Soul
Power"), Kool and The Gang, Wilson Pickett e outros. Com a proliferação
de uma multidão de dançarinos populares adeptos do movimento, trajados
com roupas black de ocasião, cabelos afro, sapatos plataforma
coloridos, surgiram as equipes como Soul Grand Prix, Black Power,
Dynamic Soul, Furacão 2000, União Black. Surgem importantes nomes da
funk music carioca como Gerson King Combo, Tony Tornado, Tim Maia,
Sandra Sá, Cassiano, Robson Jorge, Rosa Maria e outros. O movimento
espalha-se pelo país, com a Chic Show, em São Paulo; a Black Porto (RS)
e a Black Uaí!, em Belo Horizonte. Mesmo à revelia da imprensa, os
bailes funk do subúrbios cariocas entrariam em 2000 muito populares,
mas já com grande influência da música e roupas hip-hop. Os cariocas
proporcionam o funk melody, com batida mais rápida e semelhante ao rap;
e o charme, um funk pós-disco mais sofisticado que a assim chamada
'estética do barulho' presente no hip-hop (rap).
1971
A hora e a vez dos mineiros. Com a música "Clube da Esquina", de
autoria de Milton Nascimento com Lô Borges e Márcio Borges, inaugura-se
o movimento de uma nova música mineira que revigoraria a canção
popular brasileira do começo da década. Em torno de Milton Nascimento, e
a partir de sua proposta, em 1972, ele lutaria por lançar um álbum
duplo com praticamente todos os seus amigos e parceiros mineiros,
incluindo o seu maior companheiro musical, o letrista Fernando Brant.
Assim é lançado o álbum Clube da Esquina 2 – o nome já deixa bem claro a
proposta fechada do grupo e de como eles se consideravam. Com o enorme
sucesso de vendas do disco, Milton Nascimento torna-se definitivamente
um êxito comercial e todos os seus amigos mineiros também. Dentre o
seleto grupo citamos Lô Borges, Tavinho Moura, Márcio Borges, Wagner
Tiso (e seu grupo Som Imaginário), Ronaldo Bastos e Beto Guedes. Cada
um, individualmente, atingiria carreira de sucesso com discos e shows
dentro e fora do Brasil. A música mineira é a grande sensação do
momento.
Milton Nascimento
1972 Nos primeiros anos
da década, acontece um surto de uma produção musical popular de cunho
nacionalista, de exaltação das belezas naturais do país e da idéia
básica de que "Deus é brasileiro" – muito ao gosto do ainda período
militar –, numa tentativa quase ufanista de direita representada
principalmente pela dupla Dom & Ravel com a música "Só O Amor
Constrói", de 1971, e outro grande sucesso que Dom (Domingos Leoni)
compôs (em 1970) para o então popular grupo de rock Os Incríveis – "Eu
Te Amo Meu Brasil". Aproveitando a grande repercussão desses tipos de
canções, Os Incríveis ainda gravariam (em 1971) um compacto simples com o
"Hino Nacional" (Música de Francisco Manoel da Silva e letra de Osório
Duque Estrada, adaptação vocal de Alberto Nepomuceno) e o "Hino da
Independência do Brasil" (música de Dom Pedro I e letra de Evaristo
Ferreira da Veiga).
1973
É o apogeu da carreira de Raul Seixas (1945-1989) – o maior roqueiro
da história da música pop brasileira. Tendo começado profissionalmente
dois anos antes, foi somente em 1973 que ele consegue o seu primeiro
grande sucesso com "Ouro de Tolo", incluída em seu primeiro LP solo
Krig-há, Bandolo!. No mesmo ano, viriam outros hits como "Metamorfose
Ambulante", "Mosca na Sopa", e "Al Capone" (com Paulo Coelho). Sua
carreira se consolidaria com os três álbuns – Gitá (1974), Novo Aeon
(1975) e Há Dez Mil Anos Atrás (1976). Outros grandes sucessos de Raul
Seixas são: "Como Vovó Já Dizia" (com Paulo Coelho, em 1975), "Rock das
Aranha" (em 1980) e "Cowboy Fora da Lei" (em 1987). Desfrutando de um
dos maiores públicos da história da música popular brasileira, Raul foi
o primeiro artista nacional a ter um disco organizado e lançado por um
fã-clube, a coletânea de gravações raras 'Let Me Sing My
Rock-and-roll', de 1985. Com o passar dos anos, sua importância e
influência na música brasileira só se fariam aumentar.
Raul Seixas
1974 Época áurea de uma
nova geração de grupos de rock brasileiros de variadas tendências como O
Terço, de influências do rock progressivo com o guitarrista Sérgio
Hinds como seu líder – que desembocaria no 14 Bis; do Joelho de Porco,
com o seu som pré-punk anarquista cômico formado pelo popular baixista
Tico Terpins; o Moto Perpétuo, formado pelo cantor e compositor
Guilherme Arantes; o Casa das Máquinas, formado por Netinho,
ex-Incríveis, o Som Nosso de Cada Dia; e o lendário Made In Brasil,
formado por Oswaldo Vecchione e seu irmão Celso Vecchione, talvez o mais
popular e roqueiro da época, dentre outros mais. Destaque para os
Secos & Molhados (com Ney Matogrosso), o mais criativo grupo da
década a misturar pop-rock com música brasileira, portuguesa e outras
influências – sua curta duração (1971-74) atingiu grande sucesso
nacional.
1975
A década também foi marcada por uma curiosa produção de música
tipicamente norte-americana (no Brasil!) produzida por músicos
brasileiros que adotaram nomes americanizados. Desde o grupo paulistano
Pholhas (da Móoca) que cantava em inglês e português, ao grupo Light
Reflections com o grande sucesso "Tell Me Once Again", que depois
viraria comicamente "Telma Eu Não Sou Gay", com Ney Matogrosso; Tony
Stevens (o Jessé) com os sucessos "Flying" e "If I Could Remember";
Christian (da dupla sertaneja Christian & Ralf) com o hit "Don't
Say Goodbye"; o próprio Ralf, da mesma dupla, com o nome de Dom Elliot;
Paul Bryan (Sérgio Sá) com "Listen"; a banda Lee Jackson, com "Hey
Girl", grupo formado por músicos que hoje ocupam lugares de direção
executiva em algumas grandes gravadoras no Brasil; o grupo Sunday, de
Hélio Eduardo Costa Manso, com "I'm Gonna Get Married"; Fábio Jr., que
adotou dois nomes americanos, Mark Davies e, depois, Uncle Jack,
cantando "Don't Let Me Cry"; o grupo feminino Harmonie Cats, e até a
cantora dançarina Gretchen, que começou cantando em inglês.
Paulinho
da Viola, um dos maiores novos sambistas da época, e um dos poucos e
mais importantes defensores do já esquecido choro, participa – junto com
outros compositores e críticos – da criação do Clube do Choro, no Rio
de Janeiro.
1980
Em busca de novas alternativas musicais como resposta à já
institucionalizada MPB, parte da elite da juventude brasileira de
classe média provoca uma nova onda de rock e pop apoiada no movimento
pós-punk new wave, que domina totalmente o cenário musical nacional com
um forte movimento underground central deflagrado a partir de São
Paulo.
Os
pioneiros paulistanos desse importante movimento de negação pura da
tradicional música popular brasileira foram Júlio Barroso e sua Gang
90, a primeira banda new wave brasileira Agentss, Verminose (de Kid
Vinil) e Azul 29. Daí, surgem Titãs, Paralamas do Sucesso, Legião
Urbana (Renato Russo), Barão Vermelho (Cazuza e Frejat), RPM (Paulo
Ricardo), Ultraje a Rigor, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii, Lobão,
Biquini Cavadão, Ratos de Porão (João Gordo), Inocentes e outros. A
proposta do movimento se esgotaria coincidindo com a projeção
internacional da banda brasileira de hardcore Sepultura.
Engenheiros do Hawaii
Apesar do blues sempre
ter sido muito mais absorvido pelos músicos brasileiros diretamente
através do rhythm'n'blues pelas bandas de rock dos anos 60, o Brasil
nunca se caracterizou por um forte cenário ou movimento de blues,
apesar de ter um bom público consumidor. Dos anos 80 até 99, podemos
destacar os maiores nomes do blues como Nuno Mindelis, André
Christovam, Celso Blues Boy, e as bandas Blues Etílicos e Big Allambik.
1984
Antecedendo o surgimento da axé music, a lambada baiana torna-se um
dos mais populares estilos de dança brasileira atual a misturar samba,
maxixe e dança erótica. O maior sucesso é do grupo Kaoma com "Lambada",
uma versão do tema latino "Llorando Se Fue", do grupo Los Kjarkas. Por
falta de substância musical e limitação coreográfica, o gênero tem
breve período, mas provoca uma onda de escolas temporárias da dança por
todo o país. O sucesso internacional, quase que exclusivamente na
Europa, é quase maior do que o atingido no próprio Brasil devido ao seu
apelo exótico tipo-exportação.
Passarela do Samba
1985 Ainda no bojo da
grande década do rock brasileiro, na segunda metade desse período,
surge na capital de São Paulo, e pela primeira vez em toda América
Latina, a grande novidade norte-americana do movimento hip hop com o
rap, grafite e a breakdance, inicialmente comandada pelo pioneiro rapper
brasileiro Thaide, seu parceiro DJ Hum e o DJ simpatizante Theo
Werneck. A partir daí, com a aceitação gradual do novo movimento pela
mídia, o hip hop cresceria firmemente em importância e novos nomes,
atingindo um de seus apogeus nos anos 90.
A
música "Fricote", do baiano Luiz Caldas, inaugura oficialmente o
movimento axé music. O primeiro sucesso vem com "Eu Sou Negão", de
Jerônimo, em 1986. Mas o primeiro fenômeno de vendas, que lança
nacionalmente a axé music, acontece com o bloco afro-baiano Reflexu's,
em 1987, com a música "Madagascar Olodum", que vendeu 750.000 cópias. A
axé music é caracterizada pelo forte uso da percussão baiana como o
repique, timbau e surdos. Em geral, as letras falam da sensualidade do
corpo, do requebrar dos quadris e de danças, cheias de ironia e segundo
sentido. O novo gênero viveria o seu apogeu até a segunda metade dos
anos 90, quando começaria o seu declínio natural de acomodação. Os
principais nomes são Asa de Águia, Chiclete com Banana, Daniela
Mercury, Banda Eva, É O Tchan, Netinho e outros. Pela primeira vez na
história da música brasileira quebra-se a hegemonia São Paulo-Rio.
Cazuza
Em 20 de outubro, começa
oficialmente as transmissões da MTV Brasil, importante emissora pop de
marca internacional que passa a representar o segmento jovem da música
mundial e da música brasileira através de seus consagrados formatos
videoclipes. A partir de Março de 1999, a MTV Brasil passaria a dedicar
boa parte de sua programação televisiva, principalmente em sua grade
das 22h, à música popular brasileira – além do pop-rock – como o
pagode, axé music e a tradicional MPB. A partir de 1996, a MTV Brasil
instituiria a maior premiação anual de videoclipes no país através do
Vídeo Music Brasil.
1992
Com o enfraquecimento e desarticulação do movimento pop-rock
brasileiro e internacional do fim dos anos 80, surgem renovadas
categorias musicais de forte apelo popular que predominam por toda a
década no Brasil – como o dolente samba-pagode, a carnavalesca axé
music e a nova música sertaneja de sotaque country americano – nessa
ordem. Do pagode destacam-se os grupos Fundo de Quintal (tido como o
criador do novo gênero), Raça Negra, Só Pra Contrariar, Art Popular,
Katinguele, Negritude Jr. e centenas de outros. Da axé music, os
mencionados no verbete aqui citado de 1985. Da nova música sertaneja,
Chitãozinho & Xororó, Zezé Di Camargo e Luciano, Leandro e
Leonardo, Daniel, Sandy & Junior, Gian & Giovanni, Christian
& Ralf, e outros.
Zezé di Camargo e Luciano
1993
O formato CD começa a suplantar o vinil em vendas. O ainda grande
mercado de fitas cassetes existente no país é praticamente de controle
total da pirataria. A partir de 1997, a produção de vinil é extinta,
com as matrizes produtoras do velho formato sendo vendidas a outros
países como à Argentina e Inglaterra. Por essa época, o Brasil começa a
enfrentar uma forte e muito bem estruturada pirataria de CDs, vinda
principalmente da Ásia e Paraguai, até então ignorada no país.
Skank
1994 Surge o movimento
mangue beat. É lançado o primeiro disco de Chico Science & Nação
Zumbi, 'Da Lama Ao Caos', da banda mais inovadora e uma das mais
representativas – e a mais popular – do movimento de Recife
(Pernambuco). O disco é um marco no cenário pop da década. A mídia
nacional se rende ao fenômeno. A partir de então, de olho na novidade,
praticamente boa parte da produção pop da música brasileira começa a
introduzir e a se apropriar dos tradicionais tambores de maracatu e do
jeito peculiar hip-hop abrasileirado de Chico Science cantar. Outro
grande expoente do movimento é o jovem músico pernambucano Fred Zero
Quatro e sua banda Mundo Livre S/A. Junto com Chico, Fred é o autor do
manifesto "Caranguejo Com Cérebro".
Djavan
Com uma repercussão
internacional simplesmente impressionante, no mês de dezembro, morre
Antonio Carlos Jobim (Tom Jobim), num hospital em NovaYork, aos 67
anos. Além de ser um dos criadores da bossa nova, é considerado um dos
maiores compositores do século ao lado de Heitor Villa-Lobos, George
Gershwin, Cole Porter e Irving Berlin. A importância de sua obra
musical é tamanha que, no mundo todo, não há um músico de jazz sequer
que não tenha em seu repertório alguns de seus temas, sob o risco de
não ser considerado de primeira linha. Tanto assim que, no começo de
95, o amigo e prestigiado saxofonista norte-americano de jazz Joe
Henderson lançou um álbum interpretando exclusivamente os maiores
sucessos do maestro.
Cassia Eller
1996 O Brasil é
oficialmente o sexto maior mercado fonográfico em vendas do mundo. 80%
do consumo de CDs e do que se toca nas rádios é de música brasileira,
invertendo o cenário predominante dos anos 80, em que a música pop
norte-americana com Madonna, Michael Jackson e outros vendiam mais do
que a música nacional.
No
cenário da música pop brasileira atual, depois da morte de Cazuza,
nenhum outro fato dessa natureza chocaria tanto o país quanto a morte
de Renato Russo, também pelos sintomas da AIDS. Renato Manfredini
Júnior nasceu no dia 27 de março de 1960 e adotou artisticamente o
sobrenome inspirado no filósofo francês Jean-Jacques Rousseau
(1712-1778). Renato foi o líder da banda Legião Urbana, o mais
importante grupo de rock dos anos 80. Muito intelectualizado e um dos
mais brilhantes letristas de sua geração, Renato ainda lançou alguns
trabalhos solos como The Stonewall Celebration Concert (1993), em
inglês; Equilíbrio Distante (1995), em italiano, e o CD póstumo O
Último Solo, lançado em 1997.
Carlinhos Brown
Depois de mais de 10 anos
de um movimento praticamente marginalizado pela mídia, o rap atinge
firmemente setores da classe média. Nesse movimento hip-hop (com o
grafite e a breakdance), destacam-se tanto artistas de classe média
alta como Gabriel, O Pensador, quanto grupos vindos das violentas
periferias das grandes cidades como Racionais MCs (SP) – o maior
fenômeno do mercado independente com mais de 1 milhão de CDs vendidos –,
Pavilhão 9 (SP), Faces do Subúrbio (PE), Planet Hemp (Rio), Nocaute
(RJ), Detentos do Rap (da penitenciária do Carandiru, em São Paulo),
Câmbio Negro (DF), Da Guedes (RS), Xis & Dentinho (SP), Marcelo D2
(Planet Hemp) – com contundentes críticas sociais. Boa parte da MPB e da
música pop brasileira incorpora traços do rap em seus repertórios.
Quase
no final da segunda metade dos anos 90, presencia-se uma certa corrida
à chamada música pop eletrônica em alguns setores da música pop
nacional, mas novamente mais como efeito de arranjos musicais, uma vez
que o gênero tecno não admite vocal. Destacamos alguns nomes da chamada
nova geração de produtores e performers de música eletrônica
brasileira como os Friendtronics, Xerxes, Mau Mau, M4J, Marky, Tetine,
X-Action, Lourenço Loop B, Ramilson Maia, Gismonti André, Fábio
Almeida, Camilo Rocha e outros. À exemplo do que ocorre nas grande
capitais do mundo há dez anos, o Brasil começa a viver o auge do culto
aos DJs, que produzem as grandes festas ao ar livre chamadas de
'raves', ou em casas noturnas, e lançam CDs com remixagens e temas de
suas preferências. A remixagem (o remix) é uma das manifestações mais
modernas do momento.
1998
Ao recuperar-se de sérias complicações de saúde com diabete, Milton
Nascimento, merecidamente, ganha o prestigiado Prêmio Grammy na
categoria World Music por seu disco Nascimento (WEA), em 25 de
fevereiro.
Depois
de cinco anos de ausência do cenário musical, e sem lançar músicas
inéditas num único álbum, Chico Buarque retorna com o lançamento do
bem-recebido CD Cidades.
Tim Maia
Inesperadamente, o país é
tomado de assalto pelo estranho fenômeno dos padres carismáticos
cantores. O padre Marcelo Rossi lança o seu primeiro CD de canções e
coreografias religiosas, atingindo a impressionante marca dos 3 milhões
de exemplares vendidos. Aproveitando a oportunidade de mercado, outros
padres viriam à reboque explorar o novo filão populista.
Caetano
Veloso consegue uma façanha jamais realizada em toda sua longa
bem-sucedida mas, muitas vezes, atribulada carreira. Grava a música
"Sozinho", de Peninha, no CD ao vivo Prenda Minha, e vende 1 milhão e
meio de CDs e é o mais tocado nas rádios de todo o país, de Maio a
Julho.
1999
Gilberto Gil recebe o Grammy para o Brasil, na cada vez mais
importante categoria World Music, para o seu disco ao vivo 'Quanta
Gente Veio Ver', de 1998 (WEA), em inglês, 'Quanta Live'. Na verdade,
Gil estava torcendo mesmo para a sua amiga, a cantora caboverdiana
Cesária Évora. O Grammy é o Oscar da indústria fonográfica
norte-americana, a Academia de Artes e Ciências da Gravação dos EUA,
transmitido por TV para 1,5 bilhão de pessoas, em 180 países.
Através
de David Byrne, seu selo Luaka Bop, e o músico pop norte-americano
Beck, os Estados Unidos interessam-se pela Tropicália através da
coletânea The Best of Os Mutantes – Everything is Possible, com grande
repercussão na imprensa internacional. Byrne afirma que a música
brasileira deve crescer nos Estados Unidos. A imprensa americana e
inglesa dedicam extensas matérias sobre um dos mais importantes
movimentos musicais do Brasil, ocorrido há mais de 30 anos atrás. Com
isso, recobra-se também o interesse pelo músico Arnaldo Dias Baptista –
o mais importante dos Mutantes – com muitas matérias a seu respeito e
um CD intitulado 'Arnaldo Dias Baptista – Revisitado Novamente',
lançado pelo selo Dabliu.
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